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quarta-feira, 26 de março de 2014

Técnica pioneira de cirurgia intrauterina ultrapassa a marca de 110 pacientes no Brasil


Técnica pioneira de cirurgia intrauterina ultrapassa a marca de 110 pacientes no Brasil
O método corrige com sucesso a Mielomeningocele, doença que afeta um em cada mil bebês nascidos vivos no país



O Brasil foi o primeiro país da América Latina a realizar a cirurgia a céu aberto intrauterina para correção de Mielomeningocele, a prática pioneira teve início em 2011 no Hospital e Maternidade Santa Joana – instituição de referência na saúde da mulher e do recém-nascido, localizada na capital Paulista. O método comprova que os benefícios de intervenções durante a gravidez são realmente superiores aos das técnicas pós-parto e, ao longo dos anos, os resultados vem se mostrando extremamente positivos e animadores para os profissionais de medicina e seus pacientes.



Recentemente foi conquistada a marca de 100 procedimentos da cirurgia a céu aberto feitos no HMSJ, com resultados semelhantes aos observados no estudo americano MOMS publicado em 2011 que comprovou a eficácia do procedimento, inclusive em longo prazo, o que configura uma grande vitória para a medicina brasileira. Segundo Antonio Fernandes Moron, responsável pelo Serviço de Medicina Fetal do hospital e Maternidade Santa Joana, se trata de um avanço extremamente importante, pois a técnica corrige o defeito na coluna do bebê, evitando o acúmulo de líquor no cérebro, também conhecido como hidrocefalia. ‘’Antes da cirurgia era necessária a implantação de uma válvula cerebral, que devia ser substituída em média quatro vezes ao longo da vida, para drenar o líquor para a cavidade abdominal, controlando a hidrocefalia após o nascimento. Hoje, a cirurgia a céu aberto preserva a coluna e evita o implante da válvula maioria das pacientes’’, explica o especialista.



Dr. Moron ainda acrescenta que essa cirurgia tem um tempo certo para ser realizada – entre a 24ª e a 26ª semana de gestação – pois o feto estará pesando entre 500 e 900 gramas. ‘’ Respeitar o tempo certo para o procedimento é essencial, porque antes do período indicado a doença raramente é diagnosticada por exames. Depois desse período, o risco de que os efeitos da malformação sejam irreversíveis é altíssimo’’, garante o médico.
Para que se obtenham estes resultados, é muito importante que se tenha uma equipe multidisciplinar muito afiada, a técnica envolve um grupo que requer abordagens inovadoras tanto em Cirurgia Fetal, quanto em Neurocirurgia Pediátrica e Anestesia, além de cuidados em UTI e Semi-Intensiva especializada e habituada com este tipo de técnica cirúrgica para a gestante e o recém-nascido.

Segundo estudos, a Mielomeningocele afeta um em cada mil bebês nascidos vivos no Brasil, o que representa, em números absolutos, 3.000 crianças todos os anos. A doença está associada a alterações genéticas e baixos níveis de ácido fólico no organismo da mãe no momento da concepção e durante as primeiras doze semanas de gravidez.

Trata-se de um defeito congênito em que a coluna vertebral e o canal espinhal não se fecham antes do nascimento, a doença é um tipo de espinha bífida que dificulta a função primordial de proteção da medula espinhal, que é o "tronco" de ligação entre o cérebro e os nervos periféricos do corpo humano. Quando a medula espinhal nasce exposta, como na Mielomeningocele, muitos dos nervos podem estar traumatizados ou sem função, sendo que o funcionamento dos órgãos relacionados (bexiga, intestinos e músculos) pode estar afetado. Cerca de 90% dos pacientes com Mielomeningocele poderão apresentar durante a vida algum tipo de problema urológico que pode variar desde infecções urinárias até a perda de função e insuficiência renal com necessidade de diálise e transplante.

Em geral, cirurgias fetais são realizadas quando se detecta situações que colocam a vida do feto ou algum órgão importante em risco. A cirurgia da Mielomeningocele é uma exceção a essa regra, mas não totalmente, pois embora a doença não coloque em risco a vida do feto nem cause lesão grave aparente do sistema nervoso, a presença da Mielomeningocele dentro do líquido amniótico, pelo constante movimento do feto, provoca traumatismo das raízes nervosas e pode ocasionar uma paraplegia ao nascer, caso o bebê não seja operado durante a gestação, no período indicado.

A presença do líquido amniótico é também agressora, promovendo um processo inflamatório da meninge e das raízes nervosas, podendo levar a uma piora da porção motora e, eventualmente, a alterações das funções urinária e intestinal. Outro fator importante está relacionado ao fato de a medula estar fixada na sua porção inferior, levando a uma tração de todo o tronco cerebral. Com o crescimento do feto, pode ocorrer a hidrocefalia, que leva a uma alteração cognitiva importante. “Por isso, quanto mais precoce for a correção do problema, maiores são as chances de uma vida sem limitações motoras, neurológicas e cognitivas para a criança”, comenta Dr. Moron.

A técnica da cirurgia a céu aberto já comprovou sua eficácia e segurança para as pacientes e consiste em corrigir o defeito causado pela doença, deixando com que a gestação prossiga normalmente. Depois da cirurgia, a mãe permanece internada por uma semana, durante a qual recebe medicamentos para evitar contrações uterinas. O parto ocorre, em geral, por volta da 35ª semana – quando o normal é entre a 38ª e a 40ª semana.

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